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sexta-feira, agosto 18, 2006 

Entrevista com Luís Fazendeiro (Painted Black)

«The Neverlight», um EP de seis faixas lançado no ano passado, deu a conhecer que nem só de death metal e grindcore vive a Beira Interior. Num destes dias, o Condutor Radioactivo quis saber um pouco mais acerca deste jovem colectivo e aproveitando a ocasião, procurámos antecipar o que virá do próximo lançamento e conhecer algumas perspectivas futuras. O guitarrista e principal compositor dos Painted Black, Luís Fazendeiro, é o nosso interlocutor.

Condutor Radioactivo - Saudações Luís! Reza a história que os Painted Black existem desde 1998. Como é que tudo começou/aconteceu?

Luís Fazendeiro - Boas Frederico! A génese dos Painted Black como banda, teve origem no ano de 2001, a data oficial do nosso nascimento, mas como disseste, as ideias realmente começaram em 1998. Nesse mesmo ano, ofereceram-me a minha primeira guitarra acústica, e logo no início o Daniel (vocalista) desafiou-me a criar música para poemas dele. Por isso, as ideias foram criadas ao mesmo tempo que eu aprendia a tocar. Nunca fui muito de começar a tocar músicas de outras bandas ou artistas para aprender, e o meu propósito sempre foi criar a minha própria música, o que o Daniel ajudou a incentivar. E assim foi o começo de tudo. Depois disto começamos a juntar amigos à nossa “causa”, e ainda tivemos três anos a crescer como músicos e compositores - onde aprendendemos a tocar os nossos instrumentos e angariámos as pessoas em falta para formar a banda - até ao momento em que saímos da “garagem”. Este processo de aprendizagem ainda acontece hoje em dia, e trabalhamos para tocar melhor e compor cada vez melhor música que tem de ser honesta e sentida. É esse o mínimo que exigimos de nós próprios.

Editaram o EP «The Neverlight» duran
te 2005. Para quem não tem conhecimento dos Painted Black, como é que caracterizam a vossa sonoridade? O que podemos esperar da vossa parte?

Bem, essa é “a pergunta”! Nós próprios temos alguma dificuldade em rotular o nosso som, mas de uma maneira geral está inserido num espectro melancólico do metal e do rock. Todo o nosso som sai naturalmente e é baseado na melodia e nos sentimentos que queremos transmitir. Daí o nosso som também ser diverso. Aquilo que nos caracteriza é sem dúvida o nosso lado mais melódico/melancólico mas também temos um lado mais agressivo, que provavelm
ente muitos não compreendem ou que não apreciam tanto, mas que realmente também faz parte da nossa natureza. Temos influências que passam pelo doom metal, gothic metal até ao death metal, como outras de música acústica e ambiental, como Sigur Rós e Antimatter. De qualquer maneira tudo sai naturalmente e é fruto da inspiração do momento. O factor comum é realmente todo o ambiente intenso que eu gosto de pensar que criamos, equilibrando o peso com a melodia.

Sentem que o facto de estarem localizados no interior do país (especialmente numa zona onde abundam bandas de death metal) vos dificulta a promoção, seja pela presença de público nos vossos concertos, seja pela dificuldade em adquirir o EP?


O facto de estarmos no interior realmente dificulta a nossa deslocação para actuar, nos grandes centros e para mais público, sem dúvida. Fora esse aspecto, em relação à promoção a nível de outros meios como a Internet, estamos ao nível de qualquer banda no país. Temos um site oficial, o obrigatório espaço no MySpace, participamos no fórum nacional Metal Underground, temos várias reviews em webzines portuguesas, e já figuram
os na playlist de programas de metal regionais importantes, como o Círculo de Fogo e o Sinfonias de Aço, apenas para referir alguns. Quanto ao EP, o nosso objectivo principal sempre foi o da promoção. Enviar para tudo e mais alguma coisa, e depois vender os suficientes pela nossa região para colmatarmos o dinheiro gasto na gravação e edição (que saiu dos nossos bolsos). Ainda conseguimos colocar à venda um número reduzido de CDs no norte do país graças a pessoas amigas e também cheguei a enviar por correio alguns exemplares para a zona de Lisboa, para pessoas que nos encontraram na Internet e que gostaram realmente da nossa música. Acho sempre muito importante manter contacto e fazer algum sacrifício para dar a nossa música a quem realmente a aprecia.

Todo o processo de composição no seio dos Painted Black fica exclusivamente a cargo de determinados membros, ou rege-se pela democracia?

Realmente no que toca a compor, democracia é algo que não existe na banda, e estava a ser completamente hipócrita se o dissesse. Acho que em qualquer banda é extremamente difícil compor com seis pessoas a opinar, tem de haver um fio condutor ou uma base. Eu costumo fazer toda a base musical, por vezes os arranjos de guitarra. De seguida, mostro ao Daniel e ele escreve uma letra ou aproveita algo já escrito que encaixe, e trabalhamos a música juntos até estarmos satisfeitos. Depois é procurar a aprovação do resto da banda, e começar a ensaiar e trabalhar melhor nos arranjos finais. É claro que os restantes elementos me influenciam bastante quando trabalho o produto final. O Rui (baterista) vincou um pouco mais em nós as influências de death metal e o Miguel (guitarra) como apreciador de progressivo trouxe para os ensaios o lado mais técnico, e com estes dois animais (no bom sentido) alargaram-se muito mais os limites, nunca desleixando e mantendo sempre o sentimento que pretendemos transmitir.

Como tem sido a receptividade por parte do público e comunicação social relativamente a esse lançamento?

Quanto à comunicação social todas as críticas têm sido positivas até agora. Umas melhores, outras não tão boas, mas não se pode agradar a
gregos e a troianos. Por parte do público, as coisas têm vindo a crescer a passo e passo, mas também temos tido uma boa recepção e esperamos continuar a chegar a cada vez mais pessoas. Nesse sentido, vamos tentar tocar na zona do Porto e Lisboa e vamos continuar a promover a nosso música no enorme veículo que é a Internet.

Já tiveram oportunidade de tocar com várias bandas, incluindo uma participação num festival onde os Moonspell – pelos quais nutrem um especial afecto – estiveram presentes. Como relatam essas experiências?

Uma verdadeira aprendizagem! A cada concerto que damos, e com cada banda que partilhamos palco, aprendemos como ser melhores e a estar mais à vontade em frente a uma audiência. Tentamos sempre aprender com a experiência de quem anda nisto há mais tempo que nós, e a criar a nosso própria identidade. Temos sempre a preocupação de sermos verdadeiros em cima de palco e darmos um bom espectáculo, que é para i
sso que as pessoas também se deslocam. No caso do festival em que os Moonspell também participaram, apenas ficamos desiludidos em não actuar no mesmo dia que eles! Era algo que sempre falávamos uns com os outros, que um dia ainda íamos abrir para Moonspell… ficámos a 2 dias de distância! Esperamos que essa oportunidade se concretize um dia.

Das bandas nacionais que têm conhecimento, com quais gostavam de partilhar o palco?

As primeiras que me vêm à cabeça são os Moonspell, Desire, Before The Rain e Process Of Guilt, embora existam actualmente no nosso país, boas bandas em todos os sub-géneros do metal e rock mais alternativo. Qualquer banda de boas p
essoas, com a mesma paixão pela música que nós, será sempre uma boa banda para partilhar um palco.
Musicalmente falando, têm sido comparados ao trajecto que Anathema, Opeth e My Dying Bride têm consumado. Como é que vocês olham para essas comparações? Reconhecem alguma relação?

Essas comparações são sempre um pouco assustadoras. São sem dúvida três das nossas maiores influências e das nossas bandas favoritas, juntamente com os Katatonia, Moonspell e The Eternal, uma banda australiana que eu aprecio imenso. Estar associado a esses nomes é sempre muito positivo e são sinónimo de qualidade, mas nós realmente não nos podemos pôr no mesmo patamar! Ainda é preciso suar muito para termos tanto talento como eles! O receio apenas vem das grandes expectativas que as pessoas possam ter em relação à nossa música. Isto não é a nossa vida, e não temos com certeza o mesmo tempo que as bandas que referiste têm, para trabalharem as suas ideias e crescerem como músicos. Esta é a nossa paixão, fazemo-lo com honestidade e sentimento acima de tudo, é isso que as pessoas podem contar da nossa parte. Todas essas comparações são sempre bem vindas e são bastante gratificantes, mas nós também tentamos criar a nossa própria identidade.

A utilização de vocais femininos em bandas de gothic/doom metal é muito comum. Tendo em conta que vocês possuem muitas características que se inserem perfeitamente nesses estilos, nunca pensaram em trabalhar com um membro feminino?

Bem, actualmente esse “cliché” já não nos é tão apelativo como há uns anos atrás, em que ter uma voz feminina num tema era algo inovador e refrescante. Estamos já um pouco saturados de todo o estilo voz cavernosa/voz angelical, e hoje em dia penso que apenas os The Gathering e os Tristania continuam a cativar-me, no que toca a rock/metal com voz feminina. Depois há o caso dos Arch Enemy, mas isso como podes imaginar é um caso à parte! Penso que se no futuro usarmos uma voz feminina será talvez na onda do que os Anathema fazem actualmente, ou como os Charon trabalham as segundas vozes com uma vocalista feminina. Fora isso, não é algo que pensamos incluir. Não sentimos a necessidade de explorar essa opção por enquanto.

Tanto quanto eu sei, há já um novo lançamento nos vossos horizontes. O que é que nos podem contar acerca disso? Fala-nos sobre as vossas perspectivas para o futuro, em especial para o final deste ano e para 2007?

Evolução. O próximo lançamento, que vamos começar a gravar dia 6 (de Agosto), vai ser um registo da nossa evolução, e também vai ser um espelho mais actual da sonoridade da banda. Devido aos nossos problemas com saídas e entradas para a banda, e também ao nosso urgente desejo de lançar algo cá para fora, gravamos um EP com temas compostos há anos, literalmente. O tema “The Everlasting Guilt” tem 2 anos e era o mais recente de todos eles. Mas foi um mal necessário, já o ansiávamos há 4 anos, e eram os melhores que tínhamos bem preparados. Neste último ano, com uma formação estável, já pudemos trabalhar em temas mais recentes, e com os novos membros também conseguimos elevar um pouco mais a fasquia a nível de complexidade. Esperamos que tudo isso se reflicta no produto final. O novo EP vai contar com 5 temas, e vai ser mais agressivo que o anterior, mas a melodia e a melancolia que no fundo caracteriza o nosso som vai continuar a marcar presença. A má notícia para alguns é que vai ser outro registo diverso, em que temos um tema na onda death/doom a contrastar com um tema que não vai buscar qualquer influência ao Metal, num registo mais limpo. A nossa convicção é que essas diferenças vão estar mais diluídas no conceito geral do disco, e que seja algo mais coeso que o anterior. Em relação ao próximo ano, o meu desejo é voltar a gravar! Temos ideias suficientes para fazer 2 álbuns, por isso material não nos falta. Penso que neste momento, já estamos a construir uma linha bem definida do que queremos que a nossa música seja, e as diferenças começam a diluir-se cada vez mais nos próprios temas, mas a diversidade vai continuar lá, isso é algo que as pessoas também podem contar da nossa parte. A nossa música vem de dentro de nós, e como podem imaginar, os sentimentos de um ser humano são tudo menos lineares. Onde há amor também há raiva, e onde há esperança também há frustração… é destes contrastes que nos alimentamos.

Últimas palavras para os leitores assíduos do Condutor Radioactivo?

Quero agradecer-te pela disponibilidade, apoio e por realizares esta entrevista. Que continues o teu trabalho de grande qualidade na Condutor Radioactivo
/Serpente Webzine. Os leitores que encontrarem algum sentido nas minhas palavras, visitem-nos em www.paintedblack.no.sapo.pt e ouçam a nossa música em www.myspace.com/blacktapestry. Continuem a visitar o Condutor Radioactivo/Serpente Webzine!